Por Bruno Franques
Via Láctea, super nova estrelas e quasares
Galáxias femininas, ciclos lunares
Pachamama, ventre sagrado
Gaia, Madre Tierra, fomos todos por vós gerados
Em suas entranhas e crateras
Grutas, florestas e biosfera
De toda forma de existência, origem materna
Abundância, fertilidade e vida em todo lugar
Fatos que a história do homem
Tentou coibir, dissimular e apagar
Amazonas, feiticeiras, bruxas e guerreiras
Quantas heroínas queimadas nas fogueiras
Deusas sagradas, divindades esquecidas
Anatole, Diana, Astarte e Afrodite
Kali, Radha, Fréya e Nefertite
Ixchiel, Tonantzin, Iara, Jaci e Naná
Deidades sacrificadas de lá pra cá
Sob a dominação masculina ocidental
Avançamos destruindo tudo que é belo e vital
Da Pangéia à colonização recente
África violentada, Matriarcado dizimado
Um continente inteiro subjugado, subtraído, esquartejado
Nessas expansões imperialistas devastadoras e indecentes
Suas filhas de lá arrancadas, são hoje aqui afrodescendentes
Iansã, Oxum, Obaluaiê e Iemanjá
Renascem no novo mundo do lado de cá
Suas lutas se unem com as anfitriãs
Caminhando lado a lado como irmãs
Abya Yala, todas as suas filhas e mais
Guaraci, Muirakitã, Rudá e Jaci
Deusas maternais que há muito tempo vivem por aqui
Mulheres indígenas e suas originárias ancestrais
Curandeiras e pajés transitam entre mundos astrais
Caciques e mestras do bem viver
Atuam com práticas enriquecidas pelo tradicional saber
Para além de tudo que podemos ver
E não adianta a história tentar apagar
Apesar de tudo que fizeram passar
Dá um Google e busque que irá encontrar
Mulheres de luta, em tudo quanto é lugar
Em qualquer tempo e espaço
No cotidiano, na miséria e no altar
Em rede, luta e protesto
Elas agora têm um manifesto
O primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas
Em 1992, na República Dominicana Aconteceu
No debate, o machismo, o racismo e formas de combate
Uma rede de mulheres se fortaleceu
E a data 25 de julho, enfim a ONU reconheceu
A complexa feminilidade, é hora de exaltar
Muito além da beleza, outra forma de lutar:
Pelo empoderamento de toda mulher, em qualquer lugar
Reforçar os laços, solidariedade
Todas juntas, em Sororidade,
Contra a cultura do estupro e a objetificação
Violência doméstica e toda forma de opressão
Pelo fim do feminicidio e o masculinismo
Disparidade de gênero e androcentrismo
Contra o machismo e toda forma de sexismo
Pelo fim do racismo e qualquer maneira de discriminação
Violência de gênero, em casa, na rua ou em algum canto de nação
Pela autonomia de seus corpos, não é não!
Autoestima, essência, ciclos, natureza e conexão
Menstruação, gestação, parto e amamentação
Maturidade com maternidade, ou não
Empoderamento, consciência individual e coletiva
Capacidades e qualidades, percepção ativa
Sagrado feminino, o direito ao gozo e ao tesão
Identidade de gênero, sexualidade em qualquer orientação
Aquelas que a história Insiste em querer calar
Vamos com toda reverencia homenagear
De Amy Garvey, dramaturga jamaicana, intelectual
E Sara Gomez, cineasta musicista, cubana magistral
À Djamila Ribeiro, nossa brilhante filósofa brasileira atual
Um salve às agricultoras, rezadeiras e benzedeiras
Quebradeiras de coco, artesãs e rendeiras
Lia de Itamaracá, nossa formosa cirandeira
Dona Ivone Lara, sambista e cantora magistral
Chiquinha Gonzaga, maestrina clássica e do carnaval
Zélia Barbosa e suas canções de protesto
Com Elza Soares, que fez do planeta Fome um manifesto
Virginia Brindis de Salas, ativista e poeta afro-uruguaia
Com nossa Carolina de Jesus em seu quarto do despejo
Mostraram que miséria e opressão não apaga o desejo
Saludos às hermanas venezuelanas refugiadas
Nos abrigos novas vidas, esperanças renovadas
Conheça Martina Carrillo, que liderou as revoltas negras no Equador
Maria Remedios Del Valle, lutou pela independência argentina com louvor
Sanité Bélair, tenente heroína do Haiti
Teresa de Benguela, rainha dos quilombos daqui
Como Dandara, do Quilombo dos Palmares
Levaram a luta contra a escravatura a outros patamares
Um salve a guerreira da maré, com toda sua fé
Marielle Franco, da igualdade uma sentinela
Na política, na academia, na comunidade e na favela
Comandanta Ramona, do Chiapas revolucionária
Dolores Cacuango, líder indígena pela reforma agrária
Monja Roja del Mayab, campesina mexicana
Domitila Chúngara, trabalhista boliviana
Rigoberta Menchú, Nobel da Paz guatemalteca
São tantas mulheres, tantas vidas de batalha
Que para fazer justiça, o poema viraria uma biblioteca
Tantas mães, avós e madrinhas em luto
Suas filhas, heroínas assassinadas
Pela truculência desse patriarcado bruto
Covardemente silenciadas
Se a humanidade hoje
Na pandemia dessa crise civilizatória
Está a beira do abismo
Numa encruzilhada sem escapatória
É porque o colonizador boçal
Homem branco, bárbaro, patriarcal
Espancou, violentou e matou
Silenciou e acabou com tudo que encontrou
Mas se ainda alguma chance a humanidade tiver
Virá da resiliência e valentia da mulher
Guerreira, matriarca, mãe e menina
Nosso futuro depende hoje, da força feminina
Não se trata de dar voz
Elas já cantam com afinação e harmonia
Nem de resgatar ou ajudar
Atuaram sempre com independência e maestria
Temos é que parar de boicotar, assassinar e violentar
Reconhecer na história o seu merecido lugar
Ouvir com reverencia e deixar-se guiar
Por todas as mulheres negras
Da America Latina e do Caribe
Pedir perdão em profunda gratidão
Em reverencia às suas lutas
Contra toda forma de opressão
Contra o machismo e a misoginia
Contra toda forma de tirania
Exaltar além da sua beleza
Sua leveza e resistência
E como um grito de louvor
A toda sua potencia de amor
Pois graças a elas
A esperança ainda canta
Em nome da mãe, da filha e da alma santa.
Pela liberdade e igualdade
Um grito que ninguém mais coíbe
A arma da humanidade
Tem agora outro calibre
Viva as mulheres negras
Da América Latina e do Caribe
*Imagem de destaque no site Potere Social, que disponibiliza muitos materiais bacanas para trabalhar o “Dia Internacional da Mulher Latino Americana e Caribenha”: https://www.poteresocial.com.br/25-de-julho-dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha/